A Importância da Identificação do TDAH em Meninas e Mulheres

A Importância da Identificação do TDAH em Meninas e Mulheres: Um Olhar Sobre as Diferenças de Gênero e as Influências Culturais
Autora: Luanda Rosa Queiroz- Psicóloga.
Nos últimos anos, pesquisadores têm destacado as diferenças de gênero na expressão do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e como fatores culturais podem influenciar a manifestação dos sintomas de forma distinta em homens e mulheres. Cada vez mais mulheres estão sendo diagnosticadas com TDAH, e as dificuldades enfrentadas por meninas e mulheres são frequentemente diferentes das que os meninos experienciam.  Desde cedo, as meninas recebem incentivos em casa para realizar atividades domésticas, que estimulam suas funções executivas—como planejamento, execução e gerenciamento de tempo. Elas são frequentemente responsáveis por ajudar nas tarefas de casa e cuidar de irmãos mais novos, exigindo que mantenham o foco de atenção e memória. Em contrapartida, os meninos geralmente enfrentam menos exigências nessa área, levando a um processo de camuflagem das dificuldades de planejamento e execução que podem ressoar até a fase adulta, impactando sua vida profissional e pessoal.

Infelizmente, ainda persiste o estereótipo de que o TDAH se manifesta principalmente por meio de sintomas de hiperatividade, especialmente em meninos durante a infância. Contudo, a distração também pode ser um sintoma isolado de TDAH em meninas. Apenas aquelas que apresentam comportamentos similares aos dos meninos acabam sendo submetidas a avaliações. É possível traçar um paralelo entre os tipos tradicionais de TDAH (misto, predominantemente hiperativo-impulsivo e predominantemente desatento) e a maneira como esses sintomas se manifestam nas meninas e mulheres. Esses paralelos são cruciais para compreender as variações entre as diferentes apresentações do transtorno. Além disso, meninas com TDAH têm maior probabilidade de desenvolver transtornos comórbidos, como Transtorno de Ansiedade Generalizada, depressão e transtornos de humor, que podem mascarar o transtorno de neurodesenvolvimento e dificultar o diagnóstico. Muitas vezes, essas mulheres apresentam instabilidade emocional e mudanças de humor frequentes. No caso do TDAH predominantemente desatento, as mulheres costumam ser vistas como excessivamente imaginativas, reservadas e com baixa motivação para interações sociais. Elas tendem a se autocobrar e a experimentar oscilações de humor. Frequentemente, aparentam estar ouvindo enquanto suas mentes divagam, o que pode resultar em desorganização e atrasos nas entregas de tarefas escolares.

Já no TDAH tipo misto ou combinado, essas mulheres podem ter níveis de atividade mais altos que as desatentas, mas isso não significa que sejam fisicamente hiperativas o tempo todo. Elas podem ter picos de energia para realizar atividades que não são prioritárias, manifestando a agitação através de uma fala intensa ou comportamentos compulsivos, como comprar ou comer em excesso. Na adolescência, algumas podem se expor a comportamentos de risco devido à impulsividade e à dificuldade de enxergar as consequências a longo prazo. Portanto, é fundamental que as meninas sejam observadas de perto, especialmente em famílias com histórico de TDAH, para que não cheguem à idade adulta sem um diagnóstico. O reconhecimento precoce do transtorno pode evitar que essas mulheres enfrentem maiores prejuízos em suas vidas pessoais e profissionais.