O Problema da dupla empatia no autismo

 É comemorado, no dia 2 de abril, o Dia Internacional de Conscientização sobre o Autismo, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007 e instituído no Brasil pela Lei 13.652/2018.  

 Na edição da Revista Zap (59-abril/2022), abordei o tema a partir de características do autismo em pessoas adultas e sintomas encontrados no Manual diagnóstico e estatístico de transtorno mentais, 5ª edição, texto revisado (DSM-5-TR) sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

   O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento, permanecendo ao longo de toda a vida do indivíduo, caracterizada por apresentar diferentes graus de suporte em três áreas: interação social, comunicação social e comportamentos repetitivos e/ou restritos.

 Damian Milton é um importante sociólogo, psicólogo britânico, ativista e defensor do movimento pelos direitos do autismo. Atualmente, é professor na Universidade de Kent, no Reino Unido. Começou a desenvolver a teoria do “double empathy problem” (ou “problema da dupla empatia”), que, por um lado, influenciou grupos de pesquisadores do assunto, mas, por outro, também suscitou críticas e controvérsias sobre o seu trabalho.  

 Nessa teoria do problema da dupla empatia, Damian Milton apresenta uma visão inovadora, em que o comportamento das pessoas que estão no Transtorno do Espectro Autista deixa de ser um “problema a ser tratado” e passa a ser visto e respeitado pela sua forma de pensar e agir em relação aos outros . De acordo com Milton:  
 “Embora as pessoas não autistas sejam geralmente caracterizadas como socialmente habilitadas, essas habilidades podem não ser funcionais, ou efetivamente aplicadas, ao interagir com pessoas autistas. Esta desconexão bidirecional na comunicação e compreensão entre pessoas autistas e não autistas caracteriza o "problema da dupla empatia“ próprias e que não devem ser subjugadas para atender a visão de mundo do não autista.” (MILTON, ano 2012, p 20.).

   Em minha experiência profissional como avaliadora com o público de pessoas com suspeita de TEA, ao o entrevistar pais que recentemente receberam  diagnósticos do seus filhos que estão dentro do espectro autista , revelam  que há empatia e comunicação eficiente quando se relacionam com outro autista.  Sendo assim, é possível deduzir que autistas podem transferir bem as informações, divulgar mais sobre si mesmos para outros autistas .

   Infelizmente, o padrão de normalidade na medicina ainda hoje é pautado por uma população neurotípica (ausência de transtornos do neurodesenvolvimento). Os testes psicométricos usam esse padrão para definir o que é classificado como patológico e normal em instituições de ensino, ambiente de trabalho, ambientes de lazer, instituições religiosas e locais turísticos.  

 Para concluir, a teoria da dupla empatia propõe uma explicação transacional, ou seja, a dificuldade de socialização se apresenta, na verdade, como um colapso mútuo da comunicação entre pessoas com diferentes modos de comunicação e compreensão social e não algo patológico ou uma inabilidade social, como definem os critérios atuaisda medicina pautados no  DSM-5 Manual Diagnostico e estatisticos de Transtorno Mentais e CID 11 Codigo Internacional de Doenças.  

Referência : Milton, Damian (2012) Sobre o status ontológico do autismo: o 'duplo problema da empatia'.