Casamento com um pessoa autista e suas adversidades
Autora: Luanda Rosa Queiroz - Psicóloga
O parceiro autista costuma ser valorizado por sua previsibilidade, honestidade e confiança em suas opiniões, além de compartilhar interesses e ter uma carreira admirável. Muitas vezes, eles apresentam características que lembram um dos pais do parceiro neurotípico, tornando-se fluentes na linguagem e na cultura do autismo.
Nos primeiros estágios do relacionamento, as características do autismo podem ser suprimidas, levando o parceiro neurotípico a não perceber plenamente o autismo do outro, o que cria a expectativa de um relacionamento convencional e gratificante. À medida que a relação avança, tanto homens quanto mulheres autistas podem desenvolver estratégias de camuflagem para driblar dificuldades sociais, comportando-se de maneira neurotípica. Essa habilidade de se adaptar pode ser utilizada em ambientes sociais e profissionais, fazendo com que se tornem verdadeiros "camaleões". No entanto, em casa, a máscara eventualmente cai, revelando a verdadeira personalidade do parceiro autista.
Características que inicialmente encantavam o parceiro neurotípico, como a paixão por colecionar modelos de trens, podem se tornar fontes de conflito, especialmente em relação ao tempo e ao dinheiro investidos nesse hobby. O parceiro autista precisa de momentos de isolamento social para se recuperar das interações diárias, o que pode resultar em um afastamento gradual do convívio social.
Um desafio significativo para o parceiro neurotípico é a sensação de solidão no relacionamento, enquanto o parceiro autista pode se sentir satisfeito em sua própria companhia, mesmo que isso signifique estar sozinho. As conversas tendem a ser infrequentes e superficiais para o neurotípico, enquanto o autista as considera satisfatórias como troca de informações, sem um foco maior na companhia mútua.
Os relacionamentos normalmente exigem expressões regulares de amor, afeto e apoio emocional. No entanto, a comunicação não-verbal, muitas vezes sutil, pode passar despercebida pelo parceiro autista, que pode não reconhecer como responder a essas necessidades emocionais. Essa dinâmica pode levar a sentimentos de inadequação, críticas infundadas e o desejo de se isolar. Outra característica comum do autismo é a alexitimia, que dificulta a conversão de pensamentos e emoções em palavras, inibindo a comunicação emocional no relacionamento. O casamento com uma pessoa autista apresenta desafios únicos que demandam compreensão, paciência e comunicação eficaz. Para construir um relacionamento saudável e satisfatório, é essencial entender as necessidades e características do parceiro autista. Uma solução pode ser a terapia individual para cada um ou a terapia de casal, caso ambos concordem em trabalhar juntos nos conflitos da relação.